Durante as cinco semanas da Quaresma preparamos os nossos corações pela oração, pela penitência e pela caridade.
Hoje, Domingo de Ramos, iniciamos com toda a Igreja, a celebração da Páscoa de nosso Senhor.
Para realizar o mistério de sua morte e ressurreição, Cristo entrou em Jerusalém, sua cidade.
Celebrando com fé e piedade a memória desta entrada, sigamos os passos de nosso Salvador para que, associados pela graça à sua cruz, participemos também de sua ressurreição e de sua vida.
Homilia
Hoje, a celebração litúrgica que
participamos é marcada por um gesto que repetimos a cada ano: com ramos nas
mãos aclamamos: “Hosana ao Filho de Davi!”.
Com esta procissão, não apenas
comemoramos/celebramos a entrada de Jesus em Jerusalém, não é apenas uma
celebração triunfal, marcada pelos cantos e sentimentos de exaltação, pois o nosso
rei está entrando em Jerusalém e é aclamado por todos como o Rei, o Filho de
Davi. A procissão que realizamos é também o caminho de Cristo com todo o seu
povo ao Calvário, ao ato central da redenção, do resgate do ser humano por
Cristo, com Cristo e em Cristo, ao Pai.
E cada um de nós neste momento
já foi colocado diante desta realidade: a aclamação de Jesus como nosso Rei e o
anúncio que logo aí na frente se encontra a Cruz. É momento de decisão para
cada um: já iniciamos a caminhada, mas agora temos que decidir se depois de
aclamá-lo rei continuamos até o Calvário com Cristo ou deixamo-lo seguir
sozinho.
Foi assim que aconteceu também
naquele tempo. Dentre os que acompanharam Jesus, proclamando-o Filho de Davi,
brotaram os que foram com ele até o Calvário, mas também brotaram os que
escolheram Barrabás deixando de lado Aquele que até a pouco era proclamado como
o Filho de Davi.
Por isso a pergunta se dirige a
cada um de nós: “quem vós quereis que eu solte: Jesus ou Barrabás”?
Claro que num primeiro momento,
por já sabermos o que aconteceu com Jesus, sua morte e ressurreição, somos
levados a dizer que nossa resposta é: solte Jesus, ele é inocente! Mas, em
nossa vida, as situações nem sempre são assim tão evidente. Diante do medo da
cruz, daquilo que se segue, somos levados a gritar: solte Barrabás! Barrabás é
sempre mais atraente, é sempre mais cômodo, sempre mais corresponde aos nossos
desejos e vontades.
Aqui temos de decidir: ou
seguimos Jesus e subimos o calvário, ou ficamos na mesma, na zona de conforto e
levamos mais uma pra casa vez Barrabás.
Não, irmãos! Não é isso que
queremos. De uma maneira ou de outra, se estamos aqui hoje é porque desejamos
ir com Cristo até o Calvário. Realizarmos uma experiência com Ele e a Ele dizermos:
Senhor, conte comigo, subo contigo, ou ainda: Senhor, confio em ti, suba
comigo! Ou ainda: Senhor, subamos juntos.
E eis que ao nos decidirmos por
isto, o calvário se abre e é hora de subirmos. Tomar a cruz e segui-lo.
É aqui que encontramos as três
realidades próprias que brotam deste seguimento, realidades essas que são
fundamentais para a salvação: a primeira: Jesus, o homem, ou poderíamos dizer:
cada um de nós que somos cristãos; a segunda o próximo que surge; e a terceira,
não menos importante, mas ao contrário, Aquele que está em tudo: Deus.
A primeira realidade: Jesus, o homem, cada um
de nós que sobe o calvário carregando a cruz! As dores marcam esta subida. As
três quedas acontecem. Três? Sabemos que não! Parecem ser incontáveis quando
nos lembramos das nossas! E Jesus também desejou realizar isto, experimentar em
sua carne o que é para nós humanos carregar esta cruz. Jesus, como ouvimos na
segunda leitura, “mesmo existindo de condição divina, não fez do ser igual a
Deus uma privilégio, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de
escravo e tornando-se igual aos homens, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se
obediente até a morte e morte de cruz!”.
Ele que é Deus poderia não desejar carregar a cruz. Mas a assume como
exemplo a ser seguido. E nós? Diante da cruz que devemos carregar imaginamo-nos
inocentes, bons demais, aos quais não é necessário a cruz. E como carregamos
isso, irmãos! Facilmente passa pela nossa mente: “como sou bom! Devo ser
privilegiado pelas minhas virtudes!”. Não mereço nenhuma cruz. E, diante da
cruz chegamos ao ponto de questionar: por que Deus essa cruz? Por que eu tenho
que carregar isso? Por que, Senhor? Justamente eu? Tão bom!
Se formos capazes de, a exemplo
de Jesus, carregar a cruz, surge a segunda realidade: o próximo. Enquanto
carregamos nossa Cruz, eis que ao nosso lado existe um irmão, que facilmente
não o vemos ou não o queremos ver, que carrega também a sua cruz. Os Evangelhos
nos narram a presença de Maria, das mulheres que choravam, de João, o discípulo
amado, de Cirineu. Maria, as mulheres, o discípulo amado estiveram todo o tempo
ao lado de Jesus. Quem carregava a cruz? Jesus ou eles? Peguemos o exemplo de
Maria, a mãe! Em quem as dores eram maiores? No Filho que carregava a Cruz ou
na mãe que via o Filho e nada podia fazer a não ser garantir-lhe: “Filho, estou
aqui!” E Cirineu? Nada tinha a ver com a história, mas tornou-se de um momento
para o outro decisivo para se chegar à crucificação, para se chegar à
ressurreição. Cirineu carrega a cruz! De quem é a cruz neste momento? De Jesus
ou de Cirineu? De quem foi condenado a carregá-la ou de quem a está carregando?
Lembremos agora: quantas vezes experimentamos os Cirineus que aparecem em
nossas vidas que nos ajudam a carregar? Dizer que precisamos um Cirineu, é
imitar Jesus! Quantas vezes fomos esses Cirineus para nossos irmãos?
Da relação entre a minha cruz e
a do próximo, surge a terceira realidade: Deus! Em todo o caminho do Calvário Ele
esteve presente, até quando dizemos como Jesus: “Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonastes?”. E ele sempre esteve presente, sempre está presente!, mesmo
quando nos negamos de vê-Lo. Com certeza, quando não damos espaço para Ele, Ele
permanece na porta! Espera nosso sim. Não fica mais longe do que isso!
E assim realizamos o caminho do
Calvário: reconhecemos Jesus neste caminho, nos reconhecemos, percebemos nosso
próximo, realizamos a experiência de Deus: eis, irmãos, estamos na Ressurreição!
Frei Robson Scudela
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