19 julho, 2015

Discurso sobre a "Vida, milagres e devoções a Santo Antônio"

O último discurso solene proferido no Grêmio Literário Santo Antônio no primeiro semestre do ano se dedicou a homenagear, justamente, o santo padroeiro da agremiação. O agremiado José Victor de Camargo Medeiros, atual presidente da academia, brindou a todos com seu discurso que perpassou a história, milagres e devoções ao santo. Confira seu discurso:



“O verdadeiro pobre contenta-se com o mínimo, deseja o mínimo porque o mínimo junto à grandeza de Deus o sacia e o restaura”. (Santo Antônio)

Saúdo com grande estima, nesta noite, a Mesa Diretora composta pelo diretor, Frei Rodrigo da Silva Santos; o presidente, Gabriel Isac Rodrigues da Silva; e o secretário, John Kelson Saraiva Pereira Alves. E saúdo a todos os agremiados e seminaristas que aqui se fazem presentes.

Hoje vos venho falar sobre um homem que foi um exemplo de santidade e de pregador. Quando descobri que iria discursar sobre ele, fiquei muito surpreso, justamente por ele ter sido um grande exemplo de pregador da Palavra de Deus. Hoje vos falo de Santo Antônio.

Santo Antônio nasceu em Lisboa, no dia 15 de agosto de 1191. Foi batizado com o nome de Fernando. Foi um Doutor da Igreja que viveu na virada dos séculos XII e XIII.

Para um melhor entendimento de meu discurso, dividi-o em apenas dois tópicos, sendo eles:

- a história de Antônio;

- devoções a Santo Antônio e seus milagres.

Santo Antônio nasceu em data incerta, mas a tradição diz que foi no dia 15 de agosto de 1191, como já disse, mas não há documentos que comprovem essa data. Tampouco se sabe com certeza quem foram seus pais. Nenhuma das biografias primitivas os citam, e somente no século XIV, a partir de traduções orais, é que se começou a atribuir ao pai o nome de Martinho de Bulhões, e à mãe, o de Maria Tereza.

Do pai foi dito ser descendente do celebrado Godofredo de Bulhões, comandante da cruzada; e da mãe, que descendia de Fruela, rei das Astúrias; mas tal parentesco nunca pôde ser comprovado. A forma de seu nome de batismo é igualmente obscura, pode ter sido Fernando Martins ou Fernando Bulhões.

Fernando fez seus primeiros estudos na Igreja de Santa Maria Maior, hoje Sé de Lisboa, sob a direção dos cônegos da Ordem dos Cônegos Regulares de Santo Agostinho, ingressando ainda adolescente como noviço da mesma Ordem.

Ao se passarem alguns anos, Fernando se encontrou com os primeiros missionários franciscanos, chegados em Portugal em 1217, e que estavam a caminho do Marrocos para evangelizar os mouros. Sua pregação do Evangelho no espírito de simplicidade, idealismo e fraternidade franciscana e sua determinação missionária devem ter tocado o coração de Fernando. Entretanto, uma expressão ainda mais forte ocorreu quando os corpos destes frades, mortos em sua missão, voltaram a Coimbra, onde foram louvados como mártires.

Autorizado a juntar-se a outros franciscanos que tinham um eremitério por Olivais, sob a invocação de Santo Antônio do Deserto, mudou seu nome de Fernando para Antônio e iniciou sua própria missão em busca do martírio.

Por essa altura decidiu deslocar-se ele também ao Marrocos, mas lá chegando foi acometido por uma grave doença, sendo persuadido a retornar. No regresso, uma forte tempestade arrastou o barco para as costas da Silícia, onde encontrou alguns companheiros, e juntos foram a caminho de Assis, a fim de participarem do Capítulo Geral da Ordem, que seria o último com a presença de São Francisco. E foi nesse capítulo que São Francisco designou Frei Antônio para o eremitério em Monte Paolo na Província de Romagna, onde Frei Antônio passou cerca de 15 meses em meditação e disciplinas.

Pouco tempo depois, aconteceu a ordenação de alguns frades em Forli, quando Frei Antônio deixou seu isolamento e para lá se dirigiu. Quando chegou, aconteceu que o pregador faltou e, sem saber dos dons de Frei Antônio para pregar, o provincial solicitou que ele falasse aquilo que o Espírito Santo o inspirasse. Quando Frei Antônio começou a falar, todos ficaram admirados com suas palavras.

Em 1223, quando o Papa Honório III sancionou a forma final da Regra da Ordem Franciscana, quando uma formação mais aprimorada se tornou autorizada, São Francisco escreveu a seguinte carta a Frei Antônio: “Eu, Frei Francisco, saúdo a Frei Antônio, meu bispo. Gostaria muito que ensinasse aos irmãos a sagrada teologia, contanto que nesse estudo, não extingam o espírito da santa oração e da devoção, segundo está escrito na regra”. E, assim, Frei Antônio acatou o pedido de Frei Francisco e ensinou teologia aos irmãos.

Em 1227, um ano após a morte de Frei Francisco, Frei Antônio foi eleito provincial da Romagna e passou os três anos seguintes pregando na região, incluindo Pádua, e para audiências cada vez maiores.

Nesse período, colocou por escrito diversos sermões. Frei Antônio participou do Capítulo Geral de 1230 onde assistiu o translado dos restos mortais de São Francisco.

Pouco depois da Páscoa de 1231, sentiu-se mal e percebeu-se doente, deixando, então, Pádua para dirigir-se ao eremitério de Campo Sampiero, nos arredores da cidade.

Depois de um tempo, quando percebeu que a morte estava próxima, pediu para ser levado de volta a Pádua, mas apenas tendo alcançado o convento das clarissas de Arcelha, subúrbio de Pádua, ali faleceu em 13 de junho de 1231 com 40 anos.

Antônio foi canonizado em 30 de maio de 1232 pelo Papa Gregório IX e, desde 1263 os restos mortais de Santo Antônio são conservados na Basílica Santo Antônio de Pádua. Quando sua tumba foi aberta para iniciar o processo de translado, sua língua foi encontrada intacta e São Boaventura, que estava presente no ato, disse: “Essa é a prova de que sua pregação era inspirada por Deus”. E sua língua ainda está exposta na Basílica de Santo Antônio de Pádua.

O Papa Pio XII, no dia 16 de janeiro de 1946 proclamou Santo Antônio, Doutor da Igreja e é comemorado no dia 13 de junho.

Agora, parto para meu segundo e último tópico: as devoções a Santo Antônio e seus milagres.

Diz a tradição que Santo Antônio operou alguns milagres em sua vida. Irei falar brevemente sobre os que mais chamaram a minha atenção: na beira de um rio, meditou com os peixes. Restaurou um campo de trigo maduro para a colheita que fora destruído por uma multidão que o seguia. Teria protegido milagrosamente seus ouvintes da chuva que caia durante um sermão. E uma mulher, impedida pelo marido de ir ouvi-lo, pôde escutar suas palavras a quilômetros de distância. E, para provar a presença de Deus na Eucaristia, fez uma mula se ajoelhar diante da hóstia consagrada.

E, por último, o milagre que me chamou mais a atenção foi a aparição do menino Jesus ao santo enquanto rezava, e essa cena foi multiplicada em sua iconografia. A sua representação iconográfica mais frequente é de um jovem tonsurado, vestindo um hábito franciscano, com um livro na mão e o menino Jesus sobre este livro, e, na outra mão, um ramo de açucena.

Santo Antônio é considerado o padroeiro dos barqueiros, dos idosos, das grávidas, dos pescadores, agricultores, viajantes e marinheiros, dos pobres e é invocado para conseguir casamento. É também o patrono de nosso grêmio literário.

Com o decorrer das devoções populares, Santo Antônio foi eleito o santo mais amado dentro do Cristianismo e, com isso, as igrejas dedicadas a ele só aumentam e vários homens receberam o nome de Antônio.

Uma tradição bem antiga dizia que se um pedido não fosse aceito por Santo Antônio eles teriam o direito de quebrar a imagem de Santo Antônio, mas isso era difícil de acontecer, pois eles também acreditavam que todos os pedidos eram aceitos pelo santo.

Santo Antônio também é um dos santos honrados nas festas juninas, junto com São João e São Pedro. Uma festa que ainda é feita nos dias de hoje e é quando moças pedem casamento. Quando o pedido é feito elas retiram o menino Jesus da imagem do santo e só o devolvem quando elas conseguirem se casar.

No Brasil, a maior festa em honra a Santo Antônio acontece em Barbalha, no Ceará, durante vários dias. A festa se inicia com a busca na mata de um pau que passará a servir como mastro da bandeira do santo, ocasião já cercada de ritualidade. Antes do corte, é feita uma oração que pede permissão ao mato para a retirada e faz homenagem ao santo padroeiro, pedindo sua bênção para que o percurso aconteça sem incidentes. Quinze dias depois, abrem-se os festejos com a celebração de uma missa onde os devotos oferecem suas cantorias. Em seguida, uma grande procissão segue em direção a uma igreja matriz, levando o mastro com a bandeira e, na frente da igreja, a bandeira é hasteada entre fogos de artifícios e, diz a lenda, que a moça que encostar no mastro da bandeira se casará em um ano.

As fontes para esse discurso foram os livros “Vida de Santo Antônio”, “Santo Antônio, vida e milagres”, “Breve vida de Santo Antônio”, “Santo Antônio do mundo inteiro”, “Santo Antônio popular” e as fontes franciscanas.

Não posso garantir que alguém aqui irá visitar Portugal, mas se um dia alguém tiver a oportunidade, aconselho a visitar Pádua para visitar o museu dedicado a Santo Antônio, onde se tem algumas relíquias do santo.

E, para encerrar esse discurso, citarei uma frase do próprio Santo Antônio:

“O pregador deve saber primeiro o que, a quem e quando prega e depois deve se perguntar se vive segundo aquilo que prega”.

Tenho dito e muito obrigado!

Por José Victor de Camargo Medeiros, seminarista do 3º ano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário