13 setembro, 2014

Discurso sobre os Conflitos no Oriente Médio

A 20ª sessão do Grêmio Literário Santo Antônio foi marcada por um precioso discurso acerca dos conflitos no Oriente Médio, esclarecedor sobre suas origens e dificuldades de resolução. O orador da noite e também presidente da agremiação, Gabriel Luiz Martinelli brindou a todos com mais uma temática atual e relevante para nossa visão de mundo. Confira:


"Nós desenvolvemos sistemas de defesa contra mísseis para proteger nossos cidadãos, enquanto eles usam seus cidadãos para proteger seus mísseis, e isto faz toda diferença". (Benjamin Netenyahu)

Saúdo com estima meus colegas de Mesa Diretora, o diretor, Frei Rodrigo da Silva Santos; e o secretário, Odilon Voss. Também estendo minhas saudações a todos que aqui se fazem presentes: agremiados, seminaristas e aspirantes e, em especial, ao Frei Marcos Estevam de Melo.

No decorrer de toda a história humana e formação e evolução da sociedade, sempre existiram conflitos. Conflitos estes realizados pelos mais diversos motivos: expansão territorial, morte de pessoas influentes, sequestros... e tantos outros que não são nenhum mistério para nós, pois acompanhamos diariamente em noticiários muitas notícias embasadas em violência e, consequentemente, o que gera conflito. Porém, atualmente, existe um conflito em especial onde os olhos do mundo estão focados e temerosos sobre qualquer ameaça que poderá desencadear uma guerra.

A partir disso, esta noite, proponho-me a discorrer sobre isso: a antiga e irresolvida batalha existente nos países do Oriente Médio.

Todos nós temos em mente que esse conflito não está acontecendo por motivos atuais, ou seja, a raiz desse problema é muito antiga. Contudo, alguém sabe como começou esse conflito? Por que ele se intensificou nos últimos dias? Ou até... por que os xiitas e sunitas não tem nenhum tipo de entrosamento? Como surgiu essa divisão?

Com base nessas dúvidas e curiosidades que tenho, desenvolverei minha prédica, e para melhor passar esse conteúdo dividirei-a em três partes:

- xiitas e sunitas;
- a origem histórica do conflito;
- os conflitos atuais.

Por volta do século VIII, a expansão do islamismo por diversas partes do mundo determinou a origem da divisão que hoje estabelece a diferença entre xiitas e sunitas. Tudo isso se iniciou no ano de 632, quando a morte do profeta Muhammad abriu espaço para uma disputa sobre quem poderia ocupar a posição de principal líder político de toda a comunidade islâmica existente.

Ali, genro de Muhammad, reivindicava a sucessão por ele ser casado com Fátima, a única filha viva do profeta na época, e ter dois netos como descendentes diretos do profeta. Contudo, a maioria dos muçulmanos não concordava com essa ideia ao perceber que Ali era muito jovem e inexperiente para ocupar tamanha posição. Foi então que Abu Bakr, amigo do profeta, acabou sendo escolhido como sucessor pela maioria dos muçulmanos.

Mesmo com essa dissidência, os partidário de Ali - conhecidos como "Shiat Ali" - prosseguiram lutando e questionando a legitimidade política dos califados que não se sujeitavam à autoridade dos descendentes diretos de Muhammad. Conhecidos mais tarde como "xiitas", eles acreditam que os líderes oriundos da linhagem do Profeta são líderes aprovados por Alá e, por essa razão, teriam a capacidade de tomar as decisões políticas mais sensatas.

Por outro lado, os sunitas - assim designados por também aderirem a Sunna, livro biográfico de Muhammad - têm uma ação política e religiosa mais conciliatória e pragmática. Preocupados com questões que extrapolam o campo da religiosidade, os sunitas empreendem uma interpretação mais flexível dos textos sagrados, estabelecendo assim um maior diálogo com outros povos e adaptando suas crenças com o passar do tempo.

Numericamente, os sunitas hoje representam mais de noventa por cento da população muçulmana espalhada pelo mundo. Na condição de minoria, os xiitas acreditam que sua vida ascética e a adoção de princípios mais rígidos garantiriam o retorno de Mahdi, o último descendente direto, que seria responsável pelo retorno de um governo mais justo e próspero. Já os sunitas acreditam que os livros sagrados (Alcorão e Suna) e a discussão entre os irmãos sejam suficientes para a promoção de um bom governo.

Os sunitas concentram-se em maior proporção em países como Arábia Saudita, Egito e Indonésia. Já os xiitas predominam em países como Irã e Iraque. Embora no Iraque 60% sejam xiitas, são os sunitas que compõem o governo e exercem perseguições e repressões à maioria.

Somente com essa divisão e confrontos percebemos que não há uma convivência pacífica desde muito tempo atrás, mais especificamente desde o século VIII, com a discussão após a morte de seu profeta e exemplo.

Segundo o professor Alexandre Hecker, especializado em história contemporânea, esse conflito existe desde os tempos bíblicos, quando judeus e árabes ocuparam partes do território do Oriente Médio. Como adotavam sistemas religiosos diversos, eram comuns as divergências que se agravavam ainda mais com a criação do Islamismo no século VII, mesmo ano da divisão.

A raiz e base do conflito se encontra nesses acontecimentos: ocupação territorial, morte de Muhammad e disputa pelo poder. Contudo, essa discussão tomou grande proporção no século passado após a Segunda Guerra Mundial, quando aumentou-se a pressão pelo estabelecimento de um Estado judeu. Porém, para compreender essa história, voltamos um pouco, para o início do século XX.

A partir do final do século XIX e início do século XX, ganhou força na Europa o sionismo, movimento que defendia a criação de um Estado judeu na Palestina. Os seguidores desse movimento alegavam que a Palestina era, de acordo com a lei judaica, a Terra Prometida por Deus ao povo hebreu. Na época em que o sionismo surgiu, a Palestina pertencia ao Império Turco-Otomano, e a população que ali vivia era majoritariamente composta por árabes-muçulmanos.

Estimulados pelo sionismo, poderosas famílias judaicas doavam dinheiro a judeus dispostos a se estabelecerem na região. Com isso, o resultado foi uma grande migração de judeus para a Palestina. Dados revelam que no ano de 1914, cerca de 60 mil judeus viviam na região, e principalmente, em paz com o povo árabe.

Porém, esse contexto mudou durante a Primeira Guerra Mundial, quando o governo inglês pediu ajuda aos chefes de tribos árabes para expulsar os turco-otomanos da região. Como mecanismo de troca por essa ajuda, os ingleses prometeram apoiar a formação de um grande reino árabe. Influenciados por essa proposta, eles realizaram um vitoriosa ofensiva contra os turco-otomanos.

Contudo, secretamente, a Inglaterra dividiu os países do Oriente Médio com a França, quebrando, assim, a promessa com os árabes. E, para intensificar a briga, os ingleses procuravam apoio da comunidade judaica internacional. Em troca dessa ajuda, o governo da Inglaterra assinou um documento no qual anunciava a sua intenção de apoiar a criação de um Estado judeu na Palestina. Aumentando ainda mais o fluxo de imigrações para aquela região.

Deste modo, no ano de 1947, o governo da Inglaterra anunciou sua iminente retirada da Palestina. Coube, assim, à ONU estabelecer e encontrar uma solução para o problema que havia se gerado entre árabes e judeus.

Com isso, houve a divisão da região da Palestina, sendo 56% da região para os judeus e 42% para os árabes, e ainda, algumas partes como território internacional.

Porém, as brigas definitivas começaram um dia após ocorrer essa divisão, porque os árabes não queriam aceitar que um povo que não era originário daquele local tivesse poder e influência sobre uma maior área de terra.

A partir dessa não aceitação de um Estado judeu, iniciou os conflitos que estão presentes até hoje.

Já elencamos dois fatores chaves dos conflitos: a divisão e não aceitação de um Estado judeu por parte dos árabes e a divisão entre xiitas e sunitas, os quais tem influência na região. Esses fatores desencadeiam combates até os dias atuais. A antiga raiz do problema continua viva e atuante.

A mais recente escalada de violência começou com o desaparecimento de três adolescentes israelenses na Cisjordânia. E esse acontecimento gerou uma série de bombardeios entre Israel e a Faixa de Gaza, mostrando que o local é tão vulnerável à provocações que qualquer ocorrido é motivo de conflito.

As fontes usadas para realizar esse discurso foram os sites do Brasil Escola, Infoescola, G1 e BBC, além do livro didático de história.

Já podemos perceber que a situação no Oriente Médio é muito complicada. Mulheres e crianças são mortas, homens inocentes são mortos, pessoas que não viveram no período em que se iniciou o conflito estão pagando com a vida, porque alguns grupos não querem reconhecer a existência de um Estado judeu e acreditam que as pessoas que vivem hoje são culpadas no lugar de seus antepassados.

Não sou nenhum historiador ou diplomata, mas creio muito que a paz é a única resposta para esse problema. Eu ainda creio que um dia todas as pessoas envolvidas nesses acontecimentos irão pensar em quantos cidadãos inocentes morrem em uma tentativa mesquinha de disputa de poder e ocupação territorial. Em como essas pessoas se sentem com isso e, principalmente, qual a opinião delas sobre o que se passa em seus países. Que elas em algum momento da história terão voz, e poderão se expressar sem medo.

Alguém já se perguntou: como essas pessoas se sentem? Será que elas também acreditam na paz como resposta? O que as impede de falar? Medo ou aceitação? E, principalmente, como chegar à Paz?

A paz deve ser o fim, depois de todo o conflito, basta haver uma aceitação por parte dos países em questão e se reeducarem na convivência pacífica entre eles.

Depois de discorrer essas palavras, creio que alcancei meus objetivos e trouxe a todos um pouco mais sobre o que ocorre no Oriente Médio. E, para melhor encerrar minha prédica, citarei uma frase de Parker, a qual creio e, sinceramente, tenho esperanças que aconteça:


"A guerra não é mais do que um meio; o fim é a paz".

Tenho dito e muito obrigado!

Por Gabriel Luiz Martinelli, agremiado do 3º ano

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