10 outubro, 2017

Sessão Solene de São Francisco de Assis

Na noite do dia 10 de outubro de 2017, a Fraternidade do Seminário São Francisco de Assis se reuniu no Grêmio Literário Santo Antônio para a realização da Sessão Solene de São Francisco de Assis.
A Sessão contou com apresentações musicais e poéticas dos Agremiados da Academia e com a prédica do Orador da noite, o Agremiado Felipe Zaros Granusso. Que segue abaixo:

“Quero mandar-vos todos para o paraíso” (São Francisco de Assis).
Saúdo com grande estima a mesa diretora, composta pelo Presidente Mateus de Oliveira, pelo secretário Odirlei Luis Possa Fante e pelo diretor Frei Alberto Eckel Junior. Saúdo também aos demais aqui presentes.
Há poucos dias estivemos em festa. Ainda hoje, com grande carinho, celebramos.
A ele não são necessárias introduções. Ele toca cada um de nós de uma maneira muito pessoal. É impossível calcular sua importância em nossas vidas.
Ele é o vínculo que nos une aqui, o grande exemplo de vida que desejamos seguir.
Para mim é um privilégio falar sobre São Francisco de Assis.
No mundo todo, no dia quatro de outubro, um incontável número de pessoas estava unido em devoção, gratidão e alegria. Milhares de seguidores celebraram a vida de nosso pai seráfico.
São Francisco foi um jovem como todos nós, que tinha seus vícios e pecados, tinha sonhos de bem aproveitar a vida que o mundo oferece. Mas um dia se deparou com a presença de Deus em sua vida e com muito fervor se propôs a segui-lo. Assim transformou sua vida, a vida das pessoas com quem conviveu, a vida da Igreja e continua a transformar a vida de muitos como nós.
 São Francisco nunca foi tão necessário como no mundo de hoje e também nunca foi tão condizente com os caminhos da Igreja de hoje. Por isto, farei minha argumentação em três momentos: Francisco e seu seguimento a Cristo, sua busca de pobreza e humildade e sua presença na Igreja de hoje.
Para comtemplar a vida de Francisco, deve-se, antes de qualquer coisa, olhar para Jesus Cristo. Não existe São Francisco sem Cristo. Seu propósito de vida se resume em seguir seus passos.

Na Regra Bulada, capítulo I, encontramos: “A Regra e vida dos frades menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade”.

De seu contato com o Evangelho, Francisco teve a certeza de que sua missão era seguir os passos de Cristo, e o que atraiu e continua a atrair tantos seguidores é como ele viveu este propósito com tamanha perfeição e os frutos que assim foram alcançados.
Ao escrever sobre Francisco, Poulenc diz: “A vida de São Francisco apareceu a seus contemporâneos antes de tudo como um momento de rejuvenescimento da Igreja. A palavra e os exemplos do Filho de Deus feito homem e dos seus apóstolos eram novamente proclamados ao mundo em seu vigor original e de modo acessível a todos (...) Os fiéis podiam agora ter novamente, diante dos olhos, uma imagem autêntica da perfeição. Sem sombra alguma podiam contemplar a imagem de Cristo crucificado, verdadeiro espelho de perfeição.”
Frei Fidêncio Vanboemmel, nosso Ministro Provincial, em decorrência da festa da Estigmatização de São Francisco de Assis, escreveu nas Comunicações: “Francisco de Assis, perfeito imitador de Jesus Cristo, mais do que ninguém, se serviu da Palavra de Deus e nela encontrou seu caminho de luz. Fez da Palavra de Deus o seu itinerário espiritual e, neste caminhar, a Palavra de Deus o capacitou para toda boa obra”.
Neste seguimento de Cristo, São Francisco escolheu por companheira de caminhada a irmã pobreza. Tinha esta como a maior dentre as virtudes.
Ele buscou em tudo viver e pregar a santa pobreza, entendendo que foi este o caminho pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo escolheu vir ao mundo.
Assim ele exorta à Santa Clara: “Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e nela perseverar até o fim; e, rogo-vos, senhoras minhas, e dou-vos conselho para que vivais sempre nesta santíssima vida e pobreza. E estais muito atentas para, de maneira alguma, vos afastardes dela por doutrina ou conselho de alguém”.
A radicalidade com que Francisco viveu a pobreza espanta a todos, parece algo impossível em nosso mundo.
Francisco deixou de ser um jovem que sonhava ser cavaleiro e conquistar grandes riquezas e passou a ser um pobre mendicante que não queria nada para si. Seria pouco dizer que isto parece loucura nos dias de hoje, também foi loucura em seu tempo.
O engano é olhar para esta situação como alguém que abre mão de seus bens para passar fome. Ele vive uma grande pobreza material, mas este não é seu objetivo. Francisco abre mão de algo bom para alcançar algo muito melhor.
Francisco vive uma vida de verdadeira intimidade com Cristo. Compreende a graça de viver para Deus e assim deixa o mundo. Sua pobreza externa, aquela que facilmente notamos não é nada comparada ao tesouro que ele conquista.
A pobreza é uma herança, no capítulo VI da Regra Bulada, ele nos diz: “Esta é aquela sublimidade da altíssima pobreza que vos constituiu, meus irmãos caríssimos, herdeiros e reis do reino dos céus, vos fez pobres de coisas, vos elevou em virtudes. Seja esta a vossa porção que vos conduz à terra dos vivos. Aderindo totalmente a ela, irmãos diletíssimos, nenhuma outra coisa jamais queirais ter debaixo do céu em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
A pobreza vivida por Francisco está intimamente ligada à humildade. Essas são a duas primeiras virtudes cantadas nos, Louvores às Virtudes.
É uma atitude de humildade que tem início em sua relação com Deus e se estende a tudo e todos. Francisco se considera um mísero vermezinho, o menor entre os menores, pois sempre levou diante de si a presença de Deus. E realmente nada somos em comparação a tão sublime Senhor.
Assim Francisco transmitiu valores que realmente mudaram a vida de muitos e que são extremamente necessários nos dias de hoje.

Francisco e seus valores continuam vivos no decorrer da história através de seus frades e seu trabalho evangelizador. Testemunhamos esta verdade nos freis aqui presentes e desejamos também contribuir com este legado.
Nos últimos anos, de maneira especial, os franciscanos vivem um tempo de graça na Igreja. Com alegria vimos o Cardeal Jorge Mario Bergoglio escolher para seu pontificado o nome de Francisco. E temos acompanhado um Papa que não só tem como exemplo, mas vive e prega ao mundo a espiritualidade franciscana.
Ele tem trabalhado com insistência em uma renovação rica e necessária em todo o mundo. E tem exaltado em seu modo de proceder a vida de São Francisco e de toda família franciscana.
Mais uma vez podemos ver, como essência de bem viver, a pobreza e humildade naquele que é o guia e exemplo de todos aqui na terra.
Citações sobre São Francisco são recorrentes em seus trabalhos, assim como a preocupação com os pobres e menosprezados, o cuidado com “nossa casa comum”, como ele chama o planeta, o desejo de uma vida fraterna entre todos, acabando com a indiferença, criando a unidade.
Como não lembrar São Francisco ao ver o Papa abrindo as portas do Vaticano para que os pobres tenham um local para tomar banho, lavar suas roupas, para que tenham um mínimo de dignidade que não encontram na sociedade atual.
O pobre de Assis é tomado como modelo na Encíclica Laudato Si, que traz para a Igreja uma nova preocupação e maneira de atuar, muito condizente com as necessidades atuais.
Um Papa que luta fortemente pela paz, que tem como exemplo aquele que foi instrumento da paz.
Em sua homilia na missa de São Francisco de Assis em 2013 ele nos diz: “A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por favor, este São Francisco não existe! E também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos. Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns se formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem toma sobre si o seu jugo, isto é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração. Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser instrumento da paz, da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que nos trouxe o Senhor Jesus”.
Tenho falado de pobreza e humildade, de um seguimento radical a Cristo, mas sabemos que o mundo prega o poder, o consumismo descontrolado. Acompanhando nossos noticiários, é difícil imaginar viver fielmente o caminho que São Francisco trilhou. Difícil, é verdade, mas certamente longe de ser impossível.
Neste sentido o Papa Francisco é uma grande luz que nos enche de esperança e fé. A alegria com que celebramos e ainda aqui estamos a comemorar São Francisco nos mostra que é sim um caminho bom de ser trilhado. Os milhares de franciscanos que vivem este caminho e fazem a diferença na vida de tantas pessoas são prova de que é mais do que possível vivê-lo.
É na verdade muito rico e desejo verdadeiramente que possamos perseverar e crescer todos os dias neste ideal.
Para tanto, que ajudemo-nos uns aos outros buscando sempre o espírito de amor a Deus que guiou São Francisco, vivendo o seguimento de Cristo, em pobreza e humildade, como verdadeiros Frades Menores.
Encerro com as palavras de Francisco encontradas na Regra não Bulada, capítulo XVII:
“E restituamos todos os bens ao Senhor Deus altíssimo e sumo e reconheçamos que todos os bens são dele e por tudo demos graças a ele, de quem procedem todos os bens. E o mesmo altíssimo e sumo, único Deus verdadeiro, os tenha, e lhe sejam restituídos, e ele receba todas as honras e reverências, todos os louvores e bênçãos, todas as graças e glória, ele de quem é todo o bem, o único que é bom”. Tenho dito. Muito obrigado.








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