26 fevereiro, 2015

Discurso sobre a "Campanha da Fraternidade 2015"


O mandato missionário recebido de Jesus Cristo pede uma Igreja em saída para testemunhar a alegria do evangelho, da vida em Jesus Cristo. Diz o Papa Francisco: "Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro", e ainda: "Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção".

Saúdo com grande estima os membros da Mesa Diretora, o diretor, Frei Rodrigo da Silva Santos; o presidente, Gabriel Isac Rodrigues da Silva; e o secretário, John Kelson Saraiva Pereira Alves, e saúdo também a todos que se fazem presentes de modo especial ao coordenador desta fraternidade; Frei Marcos Estevam de Melo; ao coordenador pedagógico da escola de ensino médio, Frei Gilberto da Silva; e fazendo uma singela menção a Frei Alberto Eckel Junior, ex-presidente desta academia.

Falo-vos hoje acerca da Campanha da Fraternidade 2015, cujo tema é "Fraternidade: Igreja e sociedade", e o lema: "Eu vim para servir", retirado do evangelho de São Marcos. A campanha de um modo geral deseja, no tempo quaresmal recordar a vocação e a missão de todo cristão, e das comunidades de fé.

Podemos lembrar toda a história do cristianismo e perceber como a Igreja esteve presente e atuante na sociedade. Vamos começar pelas primeiras comunidades.

No início, essas comunidades foram muito perseguidas, por testemunharem a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, e inúmeras pessoas foram cruelmente mortas, por crer e testemunhar a boa nova, e pelo testemunho destes, o cristianismo se fortalecia até se espalhar por todo o mundo.

Posteriormente, a Igreja pôde seguir na construção da civilização europeia. A nova configuração sociocultural com grande participação da Igreja ficou conhecida como Cristandade.

No século XVI, dois movimentos abalaram a Cristandade: a Reforma Protestante e o Humanismo. A reforma dividiu a Igreja e o humanismo defendia uma sociedade estruturada pela razão e não mais pela fé. Com esta crise, o papa estreitou seus laços com os reinos de Portugal e Espanha, e a Santa Sé, posteriormente, concedeu ao monarca português o direito do Padroado, que dava ao rei a tarefa de intervir em assuntos eclesiásticos, como a criação de dioceses, nomeação de clérigos, dentre outros.

E, quando se achou o Brasil, o trabalho missionário foi intenso, devido, também a esse dever do governo português. Os jesuítas foram os primeiros a chegar e logo se instalaram com os índios e estudaram sua língua. Entretanto, a atividade missionária da Igreja não se restringia aos padres, mas, deram sua grande contribuição às donas-de-casa, músicos, quilombolas e outros, que são responsáveis por grande parte do catolicismo vivido pela maioria dos brasileiros.

Depois, com a independência, o direito do Padroado se estendeu ao monarca brasileiro, e, nessa época, a Igreja marcou sua presença por meio das casas de misericórdia, escolas, orfanatos, ou seja, uma presença institucional.

Com o passar dos anos, o governo imperial ficou desarticulado na administração da Igreja, o que trouxe alguns descontentamentos, motivos que levaram muitos clérigos a apoiarem o movimento militar que culminou na Proclamação da República.

Com esse novo governo e a constituição de 1891, o Padroado Régio chegou ao fim, ou seja, a Igreja passou a depender da própria Igreja.

A primeira metade do século XX impôs à Igreja muitos desafios inéditos, como a expansão acelerada dos centros urbanos, a ditadura Vargas, dentre outros. A resposta da Igreja veio com a criação da CNBB, e a mobilização dos leigos na Ação Católica, e a criação do CELAM.

Depois dos tempos da ditadura, a Comissão Pastoral da Terra, Comissão Brasileira Justiça e Paz, e, claro, com as Comunidades Eclesiais de Base, não podemos esquecer da Campanha da Fraternidade que começou nesse período.

Com a redemocratização do país, a Igreja intensificou seu trabalho social, por meio das pastorais, e dos novos movimentos eclesiais, e, por fim, em 2013, com a Jornada Mundial da Juventude, um momento forte de espiritualidade e oração com o Santo Padre no Rio de Janeiro.

Após discorrermos sobre a história da atuação da Igreja, podemos lançar o olhar nas dificuldades da sociedade brasileira atual e revermos nossa postura frente aos desafios.

A sociedade brasileira está em constante mudança e, por isso, a Igreja, sempre busca corresponder aos anseios e pedidos que emergem, poderíamos dizer, como bolhas de uma água fervente.

Temos muitos problemas, o crescimento populacional tende a ser negativo em menos de trinta anos; o consumo e tráfico de drogas é o segundo maior, se já não for o primeiro do mundo; a saúde e educação são precários; a classe média, tempos atrás próspera, é hoje endividada; impunidade, corrupção são problemas que deixam aos brasileiros o sentimento de insegurança, todavia, em meio a tantos problemas, Nosso Senhor chama a cada um de nós a sermos luz e sal, guias e diferença.

Deus nunca abandonou seu povo, e isto é perceptível quando olhamos o livro do Êxodo, e vemos que Deus caminha conosco, em nossas necessidades. Jesus em sua época não se calou frente às injustiças, mas colocou em primeiro lugar aquele que mais precisava. Todavia, não fez nada disso exigindo uma recompensa, mas naquilo que chamamos de lógica do serviço, quando os discípulos o perguntaram: "Quem é o maior dentre nós?", Jesus deu uma dica: "Aquele que quiser ser o maior, sirva!". É, por isso, que o Papa Francisco insiste tanto em uma Igreja em saída! Não fechada em si mesma porque os que mais precisam do nosso serviço não são aqueles que já estão no caminho, mas aqueles que pararam na metade, ou os que nem iniciaram. Uma Igreja em saída é uma Igreja que vai ao encontro dos preferidos de Deus, que abandona o desejo de ser o centro e que coloque como centro aqueles que não encontram a alegria do evangelho, a alegria de ser cristão.

Servir também não se restringe a simplesmente converter os outros a nossa fé, mas marcar presença numa sociedade plural, confessar e defender nossa doutrina frente às questões que aparecem para serem debatidas com todos, mostrar o exemplo na sociedade, pois a partir daquilo que acreditamos, procedemos conscientemente.

Ser cristão, hoje, é dar esse testemunho, é participar também de grandes assuntos de interesse geral, como a Reforma Política, a participação popular. Grandes temas hoje são debatidos e o cristão não pode ficar alienado, preso em suas novenas e devoções, pois, como disse o profeta Isaías, o jejum que tem por fim a si mesmo e não leva a uma atitude de caridade, não agrada a Deus, mas, sim, ir até o irmão, ajudar a quem precisa. Se o jejum, as novenas e devoções ajudar-nos a ter essa atitude de ir ao encontro, aí vale nossa penitência quaresmal, pois, senão, seremos cristão piedosos e não de fé, pois a fé não se limita a piedosismos, mas se estende a todos aqueles que amam.

Que em nossa caminhada quaresmal possamos estar sensíveis às inspirações do espírito e fazermos uma caminhada de verdadeira conversão, para celebrarmos com grande júbilo, a ressurreição do Senhor!

Por Lucas Moreira Almeida, seminarista do 2º ano

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