05 setembro, 2013

Discurso sobre a "Retórica da Honestidade"



"Seguindo estes passos, perceberemos que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria".

Saúdo com estima o diretor desta academia, Frei Rodrigo da Silva Santos; o presidente, Gustavo Antônio Gomes Ferreira; o secretário, Ítalo Viggiani Santos. Saúdo, também, com gratidão, o professor de Retórica, Frei Marcos Estevam de Melo; os agremiados, frades e seminaristas.

Conta-se que, certa vez, perguntaram para Madre Tereza de Calcutá o que se devia fazer para mudar a Igreja. Por onde começar? Por qual parede? Ela virou-se e respondeu claramente: por ti e por mim. Hoje, a mídia condena a Igreja Católica por estar em uma crise de valores. Propõe-se grandes reformas em questões ideológicas. E agora eu pergunto: por onde começar? Partimos de onde?

Somos convidados semanalmente a estarmos aqui nesta agremiação, praticando a arte da oratória, tão cara e tão rara nesta sociedade do subjetivismo e das frases curtas das redes sociais. Expor ideias, defender argumentos, discutir soluções, do corriqueiro, tornou-se banal.

Nesta noite, à convite do patrono destes novos agremiados, vamos adentrar na Retórica da Honestidade. O Papa Francisco, cardeal latino-americano escolhido em março para suceder o Papa emérito Bento XVI no ministério petrino, inspirou este discurso, em especial com aqueles pronunciamentos realizados durante a 28ª Jornada Mundial da Juventude, realizada no Brasil. Esta prédica está dividida em:

1. olhar o mundo;
2. abraçar a cruz;
3. caminhar com esperança.

"Francisco, vai e repara a minha casa". Foi uma das frases mais compartilhadas no Facebook, assim que houve a primeira aparição do pontífice. Parecia ser a eleição de mais um papa, até mesmo para os católicos mais fervorosos. Quando de repente, por um nome, tudo mudou.

Francisco! O perfeito marketing, num período de crise. Essa possibilidade foi excluída, quando o papa, de um passado até então desconhecido, continuou com o mesmo discurso, o mesmo olhar. Lançou sobre o mundo um olhar de esperança e convidou-nos a fazer o mesmo. Olhar o mundo com esperança, assemelhando-se ao semeador que saiu a semear sem escolher onde, todos os lugares poderiam ter sido terra boa.

Hoje podemos nos questionar. Que tipo de terreno somos? E qual queremos ser? Inúmeras vezes somos o caminho que escuta o Senhor, mas na nossa vida não muda nada, pois nos deixamos intimidar por tantos apelos superficiais que escutamos. Ou pior, temos entusiasmo, porém não temos coragem de remar contra a corrente. E quantas vezes deixamos que a Palavra de Deus fosse sufocada pelas paixões negativas? Apesar de tudo, queremos ser terra boa, cristãos de verdade e não pela metade, "engomadinhos". Olhar significa oferecer ao Senhor o melhor, como reza o Papa Francisco: "Vê, Jesus, as pedras que tem, vê os espinhos, vê as ervas daninhas, mas vê este pedacinho de terra que te ofereço para que entre as sementes".

Na caminhada da Retórica da Honestidade, somos conduzidos ao abraço. O amor é manifestado neste gesto concreto. O abraço de Jesus, realizado na cruz, é uma cena forte que leva a nós, cristãos, a uma profunda reflexão. Pedro fugindo da perseguição do Imperador Nero, percebeu que Jesus caminhava na direção oposta, e assustado perguntou: "Para onde vais, Senhor?" A resposta de Jesus foi: "Vou a Roma para ser crucificado outra vez". Pedro então compreendeu que não estava sozinho. Percebam a grandeza desta historieta: "Jesus, com sua cruz, atravessa nossos caminhos e carrega os nossos medos, os nossos problemas, sofrimentos". Abraçar é um gesto muito significativo, nos dias de ontem e de hoje, no abraço é possível unir-se as vítimas da violência, as famílias que passam dificuldades. Assim, o bispo de Roma exorta: "Na cruz Jesus se une a todas as pessoas que passam fome, num mundo que, entretanto, se permite o luxo de todos os dias jogar fora toneladas de comida, onde pais e mães assistem calados seus filhos sendo vítimas de paraísos artificiais, como as drogas; na cruz, Jesus se une a quem é perseguido, pela religião, pelas ideias, ou simplesmente pela cor da pele". Na cruz, Jesus se une a nós que muitas vezes perdemos a fé na política, e quantos não perderam a fé na Igreja e até mesmo em Deus, por verem a incoerência dos cristãos. Na cruz abraço de Jesus, está o sofrimento, o pecado do homem, e o nosso também. E nos diz: "Eu venci a morte, para dar-lhes esperança, dar-lhe a vida!" (Jo 3,16).

Na conclusão da Jornada Mundial da Juventude, convidou o Papa: "Ide, sem medo, para servir". Nosso terceiro  ponto, baseia-se no princípio do serviço. Devemos estar disponíveis e sensíveis ao chamado de Cristo. Caminhar, implica em deixar pegadas, para que outras pessoas encontrem o caminho, por isso a importância da coerência na vida. O melhor discurso é o testemunho, aquele que proferimos nas "sessões todos os dias", uns mais solenes, outros de improviso. Este último tópico, amarra todas as outras informações: partilhar a experiência de fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor nos confia, é a missão desta agremiação. O Senhor não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós, nesta missão de amor.

Queridos irmãos neo-agremiados, Rhuan e Robson, seguindo estes passos, perceberemos que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria.

Estimados, a Retórica da Honestidade abre-se para todos nós, é um caminho que pode e deve ser percorrido. Sejamos nós, protagonistas com esperança.

Utilizei como fontes extrínsecas para este discurso, três grandes pronunciamentos do Papa Francisco no Brasil ocorridos na Via-Sacra, na Vigília de Oração com Jovens e na Homilia da Missa de Envio.

Para fechar com chave de ouro este discurso de agremiação citarei o poema de Frei Walter Hugo de Almeida:


"ESSE ARGENTINO"

Apareceu ao povo o Papa: Feliz,
simples, humilde a todos surpreendendo,
lembrando o pobre, São francisco de Assis,
como a apontar, esperança e prometendo...

Como a sonhar do pobre ao pobre, uma Igreja,
sair de Roma, pra levar para o mundo,
a mensagem que Jesus nos deu, deseja
que lei se torne para um coração profundo!

Esse argentino vai virar nossa Igreja,
na direção do povo santo da rua,
e que assim seja sempre, sim, que ela seja.

Uma Igreja pobre e para o pobre, louvor!
Fora de Roma e pelo mundo a pregar
o que Jesus deixou: - Um Reino de amor.

Tenho dito e muito obrigado!

Por Vinícius de Menezes Fabreau, seminarista do 2º ano

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