25 outubro, 2013

Discurso sobre as "Manifestações Populares Brasileiras"


Nesta quinta-feira, excepcionalmente, tivemos a segunda sessão do Grêmio Literário na semana, entrando em dia no cronograma da agremiação. Desta vez, o orador da noite, Gabriel L. Martinelli, brindou a todos com um envolvente texto acerca dos protestos e manifestações ocorridos no mês de junho deste ano em prol de um país melhor. Confira o texto:

"Se o penhor dessa igualdade conseguimos conquistar com braço forte, em teu seio, ó Liberdade, desafia o nosso peito a própria morte!"
(trecho do Hino Nacional Brasileiro)

Saúdo com grande alegria a mesa diretora desse centro acadêmico, composta pelo diretor, Frei Rodrigo da Silva Santos; o presidente, Gustavo Ferreira; e o secretário, Ítalo Viggiani Santos. Também estendo a minha saudação a todos os demais presentes.

No primeiro semestre desse ano, uma série de manifestações populares ocorreram em ruas de centenas de cidades brasileiras e até em algumas no exterior. Tendo inicialmente como foco a reivindicação da redução da tarifa do transporte público, as manifestações ampliaram-se ganhando um número imensamente maior de pessoas e também novas reivindicações.

A violência policial contra os atos também contribuiu para que mais pessoas fossem às ruas para garantir os direitos de livre manifestação. Porém, essa não foi a primeira e consequentemente não será a última manifestação ocorrida no Brasil. Esses movimentos são relevantes desde o início do século XX. Desta forma, proponho-me a deixar-vos a par das principais manifestações brasileiras e algumas de suas consequências após seus pedidos.

Greves, manifestações... são movimentos feitos pelo povo para ir à procura de um direito ou contra uma lei que foi imposta, tornando público seu desejo e fazendo sempre com que mais pessoas participem a favor das causas pelas quais lutam em suas aparições. Durante a história brasileira grandes foram os manifestos e muitos foram os motivos, mostrando, se for analisado, que o povo brasileiro luta em busca de um país melhor.

Tenho como objetivo informar a todos a respeito dos protestos brasileiros ocorridos desde o século XX, pois muitos desconhecem ou nem mesmo sabem de sua existência.

Tenho como motivação ser este um tema e que muito abalou a estrutura interna brasileira. Desta forma, é de grande importância conhecê-lo, mesmo que superficialmente.

Para melhor entendimento de minha prédica, irei dividi-la em dois tópicos, sendo eles:
- principais manifestações brasileiras;
- 2013: "o gigante acordou".

Para melhor aproveitar meu tempo, que é curto, discorrerei a partir de uma síntese das duas maiores e mais importantes manifestações do século XX. Elas, por sua vez, abriram espaço para um Brasil mais justo e honeste ao povo brasileiro.

A primeira, sendo esta ocorrida em 1984, ficou conhecida como "Diretas Já!" e pregava as eleições diretas para presidente, que haviam sido abolidas anos antes. O país ainda vivia os últimos anos da ditadura civil-militar, o que não impediu que milhares de pessoas saíssem às ruas para participar de comícios e exigir a abertura democrática, depois de anos de controle político por parte das forças armadas. Apesar da pressão, a lei não foi aprovada e o presidente posterior foi eleito de forma indireta pelo Colégio Eleitoral. Apesar dessa derrota, um novo cenário político abriu-se no país, com uma maior liberdade de participação política.

Em seu auge recebeu cerca de 1,5 milhão de manifestantes, mexendo com os pilares brasileiros que sustentam a política. Mesmo não tendo alcançado o objetivo, mostrou ao povo que manifestar-se é uma arma forte e potente que pode e deve ser usada quando os "nossos" representantes não pregam o que desejamos e, principalmente, quando são necessárias mudanças exemplares na sociedade e na forma do governo que rege o país. Pois, se há manifestações, algo deve mudar, e espera-se que seja uma mudança na organização interna e política, de acordo?

Esse cenário de manifestação abriu caminho para outra de igual importância e participação. Ocorrendo em 1992, 8 anos após os comícios das Diretas Já!

Desta vez, a manifestação baseava-se no pedido feito pela população do impeachment do então presidente, Fernando Collor de Mello, tendo como motivação um forte indício de corrupção, além de atitudes decorrentes de seu mandato.

Em seu primeiro no poder, a inflação foi equivalente a 4,8% e o conhecido confisco das cadernetas de poupança atingiu e incomodou o povo brasileiro, que se viu no direito e com a razão de pedir a saída de seu maior representante. Sob forte pressão popular, Collor pediu a renúncia do cargo, assumindo em seu lugar o vice-presidente, Itamar Franco.

Em suas manifestações, chegou-se a um número de 750 mil pessoas manifestando com as caras pintadas com as cores da bandeira nacional. O povo querendo se orgulhar de sua pátria foi às ruas e demonstrou seu poder que, como foi percebido nessa ocasião, tem a força de derrubar presidentes.

Um fato curioso foi que a eleição de Fernando Collor foi a primeira por voto direto após a ditadura. Ou seja, o povo pediu esse direito e ao recebê-lo não ficou satisfeito com quem era seu representante, indo novamente às ruas e pedindo um Brasil mais justo, afastando-se da corrupção que regia o governo Collor.

Continuando o cenário das manifestações brasileiras, chegamos ao ano de 2013, um ano após o falso fim do mundo, um ano de cheias no Sul e secas no Nordeste, o ano em que o papa visitou o Brasil, o ano das maiores manifestações ocorridas em toda a história brasileira. O povo pedia pela redução das tarifas do transporte público, mas, imediatamente, como uma bola de neve, o número de pessoas foi aumentando e os motivos também, mostrando o quanto o Brasil é e precisa melhorar.

As manifestações desse ano começaram no mês de junho e, inicialmente, movimentando poucas pessoas que tomaram o aumento da passagem como estopim para protestar contra o governo e outros problemas sociais. Chegando a aumentar o número e alcançar 100 mil pessoas. Dez dias após o início dos protestos, esse foi marcado pela tomada da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Cerca de 35 mil pessoas ocuparam essa instituição e atearam fogo na fachada do prédio, projetado por Oscar Niemeyer, mostrando que além dos protestos, o vandalismo estava presente em meio ao cenário de mudança que havia sido gerado.

Deixando de lado o vandalismo, que foi uma ferida deixada nas manifestações, o foco está no número de pessoas que alcançou e nos motivos, cada vez mais importantes e de total relevância para um protesto.

Os números variam muito, mas estima-se que movimentaram, em todo o Brasil, e nos dias intensos de protestos, cerca de 4 milhões de pessoas que pediam um Brasil melhor e com várias reenvidicações consultadas pelo Senado e que renderam um resultado positivo:

- Transporte público: BNDS libera R$2,3 bilhões para o metrô de São Paulo;
- Contra a corrupção: foi aprovada a lei que torna corrupção um crime hediondo;
- Pela redução da tarifa: São Paulo, Rio de Janeiro e mais 15 cidades reduziram a tarifa;
- Saúde: 25% dos royalties do petróleo e dívidas da Santa Casa perdoadas;
- Gasto com a Copa: foi cancelada uma verba de R$ 43 milhões para o evento;
- Educação: Câmara aprova 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social;
- PEC 37: foi arquivada por unanimidade pelos deputados;
- Mudança política: a presidente Dilma anuncia apoio a esse tipo de reforma;
- Repressão policial: PM anuncia não usar balas de borracha em manifestações.

A força do brasileiro foi novamente capaz de derrubar leis e fazer com que sua voz fosse ouvida.

Os atos de vandalismo não devem ser deixados de lado, porém, o objetivo de minha prédica não é expô-los, mas, sim, mostrar os rumos que as manifestações instituíram no cenário brasileiro. Desse modo, esses atos não podem ser esquecidos, mas, sim, tornar-se facilmente assunto para um próximo discurso.

Sendo assim, vos pergunto: quais de vocês participaram dessas manifestações?... Refazendo a pergunta: Quais de vocês sentiram o desejo de aderir a esses movimentos?... É esse o espírito que devemos ter, de querer participar das mudanças que mexem com o Brasil. Nós somos brasileiros, somos cidadãos e temos o direito de reivindicar que a democracia funcione e o poder passe a ser voltado para o bem da população.

Após desencadear esse processo da evolução brasileira, causada pelas manifestações, encerro minha prédica usando a frase de um cartaz que estava presente nos protestos, que dizia: "Desculpa o transtorno, mas estamos mudando o país!".

Por Gabriel Luiz Martinelli, seminarista do 2º ano.


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