28 abril, 2014

Discurso sobre o "Autismo"

Na 9ª Sessão do Grêmio Literário Santo Antônio, o seminarista Lucas Weigert fez seu inspirado discurso sobre o autismo -- doença até há pouco tempo desconhecida ou cercada de mitos, mas retratada pela ficção e pela peça oratória do agremiado. Confira o texto na íntegra: 


"Nós fechamos nossos olhos
a vida perfeita, vida
é tudo que precisamos.

Vai toda a noite
a vida perfeita, vida
é tudo que precisamos..."
(trecho da música Perfect Life, Mobi).

Saúdo com grande estima a Mesa Diretora, composta pelo diretor, Frei Rodrigo da Silva Santos; o presidente, Gabriel Luiz Martinelli; e o secretário, Odilon Voss. Estendo minha saudação a todos os agremiados e seminaristas presentes. 

Hoje venho lhes falar de um tema que, para mim, foi incrível escrever e refletir ao mesmo tempo: o autismo. Quem sabe o que é autismo?

O autismo foi descrito pela primeira vez em 1943, pelo médico austríaco Leo Kanner, em seu artigo Autistic Disturbance of Affective Contact. No mesmo ano, o também austríaco Hans Asperger descreveu em sua tese de doutorado, a psicopatia autista da infância.

A palavra "autismo" foi criada por Eugene Bleuler, em 1911, para descrever um sintoma de esquizofrenia, que definiu como sendo uma "fuga da realidade". Kanner e Asperger usaram a palavra para dar nome aos sintomas que observavam em seus pacientes.

O trabalho de Asperger só veio a se tornar conhecido nos anos 1970, quando a médica inglesa Lorna Wing traduziu seu trabalho para o inglês. Foi a partir daí que um tipo de autismo de alto desempenho passou a ser denominado síndrome de Asperger.

Apesar do grande número de pesquisas e investigações clínicas realizadas em diferentes áreas e abordagens de trabalho, não se pode dizer que o autismo é um transtorno claramente definido.

Hoje venho me propor falar deste tema, pelo motivo de ter analisado na ficção tal problema e, assim, me impressionado. O preconceito para com estas pessoas e a sua rotulação como incapazes me moveram a escrever esta peça.

Vocês sabem me dizer se o autismo tem um dia memorável a ele? Só por questão de curiosidade, é o dia 02 de abril o dia mundial do autismo.

Em um assunto tão amplo, incrível e curioso, fiz a divisão do meu discurso em: definição do autismo, suas características, modo de diagnosticar e tratamento.

Interesses restritos e repetitivos, como empilhar objetos, são comuns em crianças com autismo. Caso eles sejam focalizados para uma atividade útil socialmente podem ajudar no desenvolvimento de habilidades excepcionais.

Um dos mitos comuns sobre o autismo é de que pessoas autistas vivem em seu mundo próprio, interagindo com o ambiente que criam; isto não é verdade. Se, por exemplo, uma criança autista fica isolada em seu canto observando as outras crianças brincarem, não é porque ela necessariamente está desinteressada nessas brincadeiras ou porque vivem em seu mundo. Pode ser que essa criança simplesmente tenha dificuldade de iniciar, manter e terminar adequadamente uma conversa. Muitos cientistas atribuem esta dificuldade à cegueira mental, uma compreensão decorrente dos estudos sobre a Teoria da Mente.

O transtorno autista consiste na presença de um desenvolvimento comprometido ou acentuadamente anormal na interação social e da comunicação e um repertório muito restrito de atividades e interesses. As manifestações do transtorno variam imensamente, dependendo do nível de desenvolvimento e da idade cronológica do indivíduo.

Existem muitos graus de autismo, mas quanto mais cedo a criança for identificada e começar o treinamento de habilidades sociais, melhor será seu desenvolvimento.

Segundo a Associação Americana de Austimo (ASA), pessoas com autismo usualmente exibem algumas dessas características: dificuldade de relacionamento com outras pessoas; riso inapropriado; rotação de objetos, ou seja, brinca de forma inadequada ou bizarra com os mais variados objetos; ausência de resposta aos métodos normais de ensino, assim, muitos precisam de material adaptado; desorganização sensorial (hipo ou hipersensibilidade), por exemplo, auditiva; entre outros...!

É relevante salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos este sintomas. Eles variam de leve a grave e em intensidade de sintoma para sintoma, pois o autismo se manifesta de forma única em cada pessoa. Adicionalmente as alterações dos sintomas ocorrem em diferentes situações e são inapropriadas para sua idade.

Os sintomas diagnósticos têm baseado seus critérios em problemas apresentados em três áreas, com início antes dos três anos de idade, que são: comprometimento na interação social; comprometimento na comunicação verbal e não-verbal, e no brinquedo imaginativo; comportamento e interesses restritos e repetitivos de maneira desnecessária.

É relevante salientar que essas informações devem ser utilizadas apenas como referência. Além de destacar a importância do diagnóstico precoce "porque quanto mais cedo é identificado um transtorno, mais rápido o curso normal do desenvolvimento pode ser retomado. Porém, os resultados dependem não somente da identificação dos atrasos e da indicação dos tratamentos adequados e eficazes, mas da aceitação dessa condição diferenciada pelas famílias e pelo futuro de cada um, que não dominamos nem sabemos".

Um diagnóstico preciso deve ser realizado por um profissional qualificado, baseado no comportamento, análise e observação clínica do indivíduo.

Existem diversas abordagens de tratamento para o autismo, mas é um consenso entre elas que é importante a participação da família no tratamento independentemente da abordagem.

Em crianças pequenas, a prioridade do tratamento normalmente é o desenvolvimento da fala, da interação social/linguagem, educação especial e suporte familiar. Já com adolescentes, o tratamento é voltado para o desenvolvimento de habilidades sociais necessários para uma boa adaptação, desenvolvimento de habilidades profissionais (terapia ocupacional) e terapia para desenvolvimento de uma sexualidade saudável. Com adultos, o foco está no desenvolvimento da autonomia, ensino de regras para uma boa convivência social e manutenção das habilidades aprendidas.

De um modo geral, o tratamento tem quatro objetivos: estimular o desenvolvimento social e comunicativo; aprimorar o aprendizado e a capacidade de solucionar problemas; diminuir comportamentos que interferem com o aprendizado e com acesso às oportunidades de experiência do cotidiano; e ajudar as famílias a lidarem com o autismo.

De tudo que falei, lanço-lhes um questionamento: o que isso pode mudar na sua vida? Você realmente se importa com tudo isso? Provavelmente sim, pouco ou quase nada, mas isso é apenas você que vai poder responder para si mesmo.

E ainda faça um desafio, que provavelmente seja difícil, que mexa com os seus princípios e sentimentos: quando se deparar com uma pessoa autista, não seja preconceituoso e entenda o lado da pessoa. Seja humano!

Conto-lhes, agora, uma história para fechar meu discurso: "Há muitos anos atrás, quando eu trabalhava como voluntário em um hospital, eu vim a conhecer uma menininha chamada Liz que sofria de uma terrível e rara doença. A única chance de recuperação para ela parecia ser através de uma transfusão de sangue do irmão mais velho dela, de apenas 5 anos que, milagrosamente, tinha sobrevivido à mesma doença e parecia ter, então, desenvolvido anticorpos necessários para combatê-la. O médico explicou toda a situação para o menino e perguntou, então, se ele aceitava doar o sangue dele para a irmã. Eu vi ele hesitar um pouco, mas depois de uma profunda respiração ele disse: 'Tá certo, eu topo já que é para salvá-la...' À medida que a transfusão foi progredindo, ele estava deitado na cama ao lado da cama da irmã e sorria, assim como nós também, ao ver as bochechas dela voltarem a ter cor. De repente, o sorriso dele desapareceu e ele empalideceu. Ele olhou para o médico e perguntou com a voz trêmula: 'Eu vou começar a morrer logo?'. Por ser tão pequeno e novo, o menino tinha interpretado mal as palavras do médico, pois ele pensou que teria que dar todo o sangue dele para salvar a irmã! Pois é, compreensão e atitude são tudo."

Trabalhe como se você não precisasse de dinheiro, ame como se você nunca tivesse se machucado, dance como você dançaria se ninguém estivesse olhando e doe-se sem medida.

Tenho dito e muito obrigado!

Por Lucas Weigert Nascimento, seminarista do 2º ano.


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